No mais coletivo dos esportes, o pênalti é uma aberração. O conflito entre times e multidões é, subitamente, reduzido a um duelo. A carga dramática se concentra - o destino de milhares se torna o confronto entre dois mortais: o cobrador e o goleiro. O imenso, todo-poderoso chutador… o frágil, minúsculo arqueiro. Ou assim fazemos crer epicamente - nós, locutores, narradores e comentaristas. Pobre, humilde e triste infeliz, que escolheu agarrar em vez de ser assessor de deputado, intermediário de boquinha ou profissão brasileira afim. A questão que esse artigo propõe é um imenso… PERAÍ. Ou melhor - um gigantesco e colossal MAS PERAÍ:
MAS PERAÍ... NÃO É PRA SER ASSIM?
O sujeito está ali pra defender um pênalti. Não é um fim-de-semana em resort de luxo. É defender pênalti. O pênalti, lembremos, é a penalidade máxima. Um chute a 11 metros da meta. Defendê-lo tem que ser difícil. Mais que isso, tem que ser quase impossível. O goleiro está ali pagando um pecado que seu time cometeu: o de impedir um gol por meios ilícitos. Ele não está ali condenado por um crime injusto. Salvo erro arbitral ou burrice de zagueiro – o pênalti é uma forma de justiça. E o goleiro é uma espécie de advogado de serial killer no corredor da morte. Sua situação é desesperadora – e é para ser assim.
A regra diz, cristalinamente: o goleiro só pode se mover fora de sua linha quando o cobrador tocar na bola. Certo… é uma lei que não pegou. No futebol atual, os goleiros se mexem mais do que as moçoilas do Faustão dançando música de elevador em playback. Avançam, dançam, pulam… e, por conta disso, passaram a pegar um pênalti ou outro. Os juízes, repletos de comovente piedade, deixam passar quase toda vez. Há casos acintosos, em que o goleiro vai até a linha da pequena área… e o juiz assobia, olha para as estrelas, mexe no cronômetro. Não interessa se é covardia ou não. O fato é singelo: o goleiro que sai antes – seja um, meio ou dez mil passos fora da linha… está burlando a regra.
Dirá o bom senso: olha… mas todos saem. Se eles não saírem, não pegarão mais pênalti nenhum. Não haverá mais graça. Mas peraí 2.0: eles… não saíam antes? A regra anterior era mais draconiana: o goleiro simplesmente não podia se mexer. E se mexia mesmo assim. Hoje, o goleiro pode dançar o xote em cima da linha do gol antes da cobrança.
Mais do que isso – o futebol evolui. Os goleiros de hoje são bem mais atléticos do que seus irmãos dos anos 40, aquele tempo em que os guarda-metas preferiam a corridinha ao salto. Tendo muito mais agilidade, podendo se mover sobre a linha ou além dela –eles pegam mais pênaltis hoje do que no passado. E fazem isso porque desenvolveram técnicas para tal – tirando vantagem do olhar seletivo da arbitragem.
Diante dos goleiros que saem antes – e dos juízes que raramente apitam – o que fez o Golias da equação, o antes todo-poderoso batedor? Bom, ele respondeu. Retomou a paradinha. A paradinha, amigos, não é uma novidade. Ela data dos anos 70. E, depois de inventada, foi rapidamente expulsa de campo. Proibiram a pobre coitada. Disseram que era covardia com os goal-keepers. Até que… uns aninhos atrás… alguém se tocou: epa, peraí… por que a gente tinha proibido aquilo mesmo? O que tem de mais? E eis que, em pleno Século XXI, ela voltou. E, junto com ela, voltou a grita: pobres goleiros, infelizes almas enluvadas, jogam onde o burro morreria de fome, pois nem capim há de crescer ali.
Menos. A paradinha é uma resposta genial. O goleiro que sai antes está levando vantagem. Ninguém o obriga a adivinhar canto. Ele faz isso para ter mais chance de pegar o penal. E, lembremos, o que é o penal? É, quase sempre, um gol claríssimo transformado em falta.
O pênalti presume a covardia. A paradinha é um recurso justíssimo, brasileiro, repleto de picardia. Não há nada de vil ali. Agora, a bola está na rede dos goleiros. Que eles divisem um jeito de transformar a desvantagem em vantagem de novo.
globo
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