UM SER HUMANO

27.7.07 |
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Que Ivanaldo Souza, nascido em Assu, terra de poetas, mas filho mesmo de Itajá, nas cercanias, é capaz de transformar um milímetro em latifúndio com uma bola no seu pé esquerdo, todo mundo sabe. O que pouca gente conhece – e eu me orgulho de fazer parte desta minoria -, é que o maior craque da terra de Cascudo é um caráter diferenciado. Quer ver a face crua da vida, lute com certo tipo de classe e de individuo. Não é discriminação, mas você sairá um sociólogo sem diploma.

Souza, com seu jeito manso, tem a valentia sertaneja guardada como uma peixeira no peito pronto para qualquer provocação. É tímido como um Fabiano, personagem de outro nordestino brilhante, Graciliano Ramos, de Vidas Secas. Não faz lobby de si próprio, nem abusa das gírias típicas de boleiro de terceira categoria.

Jamais foi a uma Copa do Mundo porque em tempo algum dá dinheiro nem adula repórter para sair em jornal, revista ou televisão. No lugar que por talento seria dele, o Brasil levou em 1994 Paulo Sérgio e em 1998, Leonardo, bonitinho, bonzinho, politicamente corretozinho. E em 2002, Ricardinho, conhecido como o maior traíra da história futebolística nacional.

Ivanaldo Souza é um cara em extinção. Abusa da simplicidade. Atende todo mundo, dá autógrafo. Tenho dois primos pequenos que quase infartam quando o conheceram na bela praia de Graçandu, litoral norte potiguar.Ele bateu bola com os dois. Visita doente à beira da morte. Sai de casa num domingo para dar entrevista a um jornal comunitário. Conheço perna-de-pau que botaria banca em qualquer das situações acima. Iria, talvez por dinheiro. E nunca cruzou o Atlântico, a não ser um clube muito popular em Natal nos anos 70.

Ivanaldo Souza é um ídolo sem holofote. Aliás, detesta bajulador, aproveitador. Aí vira um cangaceiro quando suspeita das más intenções. Conheci Souza há pouco tempo. Muito pouco. Mas nos afinamos porque somos parecidos. Eu abomino aparecer. Quero exterminar quem faz sacanagem, mente e trai. Eu e ele temos poucos amigos. Ele conhece todos os meus parceiros. Que também lhe querem bem.

A vida é assim: Souza foi o camisa 10 da seleção, do Corinthians, do São Paulo, do Atlético Mineiro, do Flamengo, do Atlético Paranaense e é o Deus vivo do América. Na verdade, pela sua dimensão, é um orgulho que não tem camisa. E um ser humano que o tempo haverá de reconhecer.

Autor: Rubens Lemos Filho

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