“Tenho hepatite C.13 filhos. Enfrentei o alcoolismo. Fui rico. Hoje vivo com R$ 1.700,00 do INSS” Marinho Chagas

27.11.09 | Marcadores:
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Sua vida daria um roteiro inacreditável.

Caçula de nove irmãos.

Família pobre, miserável.

Jogava futebol com bola de pano.

Mas a bola mudou o seu futuro, sua vida.

Primeiro humilhou Pelé, lhe aplicando um chapéu que obrigou o Rei a lhe pedir respeito.

O mesmo garoto magrelo que corria por Natal, anos depois se sentaria em um cassino com Frank Sinatra, brincaria com Sammy Davis Júnior e Dean Martin.

Venderia 100 mil cópias de um disco, mesmo não cantando nada.

Fez dois filmes.

Várias campanhas publicitárias, como galã.

Viraria simbolo sexual no Brasil.

”Se juntasse todas as mulheres com quem transei daria para encher a Dutra, a estrada entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Tive de tudo: cantora, atriz famosa da Globo, atriz de Hollywood. Mas nome eu não falo. Sou um cavalheiro.”

A bola o fez ser escolhido como melhor lateral da Copa do Mundo de 1974, ser o único brasileiro na Seleção da Fifa naquele Mundial.

Mas depois da carreira, vieram as dificuldades.

“Fui ingênuo, empresários e advogados me roubaram. Perdi muito dinheiro. E aí veio a separação e arrebentei de vez.”

Veio a bebida, a depressão, a hepatite C.

E os 13 filhos.

“Tenho três no casamento e dez por fora. Sim, por fora. A conta é essa.”

Teve de vender camisas da Seleção, troféus e medalhas para pagar o tratamento médico.

Depois desse furacão, Marinho Chagas, 57 anos, quer se reerguer.

Em entrevista exclusiva ao blog de Cosme Rimoli ele confirma que será candidato a deputado estadual pelo PDT de Natal.

Reclama, cobra o abandono da CBF.

“Vivo com R$ 1.700,00 do INSS. Estou esperando um apoio da CBF. Jogador de seleção na Europa tem todo o apoio. Só no Brasil que não. Nós que servimos bem à Seleção, merecemos uma aposentadoria decente. Afinal fizemos a CBF ser tão forte, tão rica. Não adianta homenagear quando a gente morre.”

E quer mais do futuro. “Vou escrever um livro sobre a minha vida e quero fazer um filme. Nem eu acredito em tudo o que vivi. Nem eu…”

Marinho conte como você se tornou o primeiro ala do futebol brasileiro?

Quando era garoto, jogava como centroavante. Fui descoberto por um sargento da Marinha jogando bola na praia. Quando a maré estava alta, a gente nadava. Quando baixava, a gente jogava futebol. Todos descalços, com um bola de pano. Ele gostou do meu jogo e me levou para o Riachuelo, uma equipe da Marinha. Chegando lá, todos queriam ser centroavante. Eu também. Queria fazer gols. Mas percebi que seria reserva do reserva. Como não tinha lateral esquerdo, me ofereci para jogar por lá. Deu certo. Só que eu nunca perdi essa cabeça de atacante. Buscava sempre o ataque. Todo time de futebol na época só tinha um volante e eles ficavam desesperados pela minha maneira de jogar. Era muito diferente.

Você ganhou destaque quando deu um chapéu em Pelé, quando jogava pelo Náutico…

Sim. Mas antes disso houve uma história engraçada. Tinha ido para o ABC e jogamos contra o Palmeiras. Fui bem demais. O time deles era a Academia com Leão, Eurico, Ademir da Guia, Leivinha, Luís Pereira. O então treinador Oswaldo Brandão foi falar com a minha família. O meu pai ficou irritado e disse: “Meu filho não vai passar fome em São Paulo, não.” E não me deixou ir. Acabei depois indo para o Náutico, jogar em Pernambuco, que era mais perto. Estava muito bem, até que houve essa partida contra o Santos. O Pelé veio com tudo em cima de mim e, não tive dúvida, lhe dei um chapéu. Fui aplaudido de pé. O homem ficou uma fera. Passou o jogo todo falando no meu ouvido: “Me respeita, moleque. Me respeita.” Ainda dei uns bons dribles nele. O Palmeiras veio de novo tentando me contratar, o Santos, mas o presidente da Federação Pernambucana mandava no Náutico. E era botafoguense fanático. Me mandou para o Botafogo e acabou.

Sua carreira no Rio foi meteórica. Virou ídolo, Seleção Brasileira.

É verdade. Minha vida virou uma loucura no Rio de Janeiro. Não só no futebol. Vieram as mulheres, as propagandas, os filmes, a música. Gravei um compacto, onde cabiam duas músicas: “Eu sou assim” e “Vingança”. Vendeu mais de 100 mil cópias. Dei todo o dinheiro das vendas para o governo investir em crianças carentes. Nunca me apeguei a dinheiro. Queria viver bem. Hoje em dia jogador de futebol faz festinha com mulher e acaba batendo, tratando mal. O Flamengo fez isso no ano passado, lembra? Contrataram as meninas e não quiseram pagar. Acabaram até batendo nelas. No meu tempo não era assim. Tudo era com muito carinho. A gente alugava as kombis e ia para as nossas festinhas. Era uma loucura, mas tudo com carinho. As mulheres não queriam tomar dinheiro dos jogadores. Tanto que eu tenho dez filhos fora do casamento. E tudo bem. Todas só queriam transar comigo.

Mas e os seus contratos, seus investimentos?

Eu achava que estava acima do bem e do mal. Fazia as coisas pelas minha cabeça. Fui muito roubado por empresários, advogados. Eu sei que jogador da minha geração não ganhava nem perto do que os de agora. Só que eu ganhei. E perdi. Perdi muito dinheiro por falta de cabeça. A gente sempre pensa que vai durar para sempre.

Você fez muito sucesso no Botafogo e na Seleção. Conte o que aconteceu de verdade com o Leão na Copa de 1974. Você foi irresponsável só pensando no ataque? Ele te deu um tapa na cara?

Cosme, vou te contar o que realmente aconteceu. Mas eu quero aproveitar para acabar com umas mentiras sobre a Copa de 1974. A Seleção estava mesmo rachada. Era uma frescura de paulistas de um lado e cariocas de outro. Mas dava para ganhar. O Zagallo foi injustiçado. Ele estudou e muito como a Holanda jogava. Só que o time não fez o que ele pediu. Nosso meio de campo deveria ter marcado mais forte. Nosso ataque era muito bom. Eu tive chances de marcar, o Jairzinho também. O Caju foi ridículo. Ele estava livre, cara a cara com o goleiro. Um torcedor apitou e ele ficou puto e chutou a bola longe e ainda xingou o árbitro. O juiz não entendeu nada e ainda deu cartão amarelo para ele. A Copa do Mundo de 1974 poderia ter sido nossa.

E o que aconteceu com o Leão?

Nós ficamos muito putos por não disputar a final da Copa. Fomos jogar contra a Polônia já irritados. O Luís Pereira havia sido expulso contra a Holanda. A imprensa paulista forçou o Zagallo a escalar o Alfredo Mostarda. Só que ele não estava se cuidando. Estava puto com a reserva. Quando jogou, não tinha boas condições. A Polônia fez o seu gol pelo meu lado. Só que eu estava na área polonesa, atacando exatamente como havia treinado e estava fazendo o que o Zagallo havia pedido. Tomamos o gol porque o Leão foi afobado e abandonou o gol, a zaga estava chegando no Lato. Depois no vestiário, ele quis colocar a culpa em mim. Já desceu me xingando, eu também o xinguei. Atenção que vou contar a verdade. Ele me empurrou e eu o empurrei. Não deu tempo para ninguém dar tapa em ninguém. Porque chegou o Jairzinho. Ele foi para cima do Leão. E falou que se encostasse a mão em mim, teria de brigar com ele. O Leão sempre foi de rugir, de ameaçar. Na hora do pau, ele fugia. O Leão quando viu o Jairzinho, ele sentou no banco e disse para deixar para lá. Só que na imprensa, a versão que chegou foi a que ele me bateu. E, claro, não fez questão de desmentir.

E depois da Copa?

Joguei no Fluminense e fui para os Estados Unidos. Vivi uma vida louca por lá. Saía com cantoras, atrizes de Hollywood. Me encontrei com Frank Sinatra, com Sammy Davis Junior, Dean Martin. Jogar pelo Cosmos era como ser artista. Foi um período inesquecível. Não dá nem para contar tudo o que vivi por lá. Depois voltei, joguei no São Paulo, no Bangu, no Fortaleza, América de Natal, voltei para jogar nos Estados Unidos, no Los Angeles Heat e acabei a carreira no Augsburg da Alemanha, com 35 anos.

E foi aí que começou o alcoolismo? Como você escapou das drogas?

Jogador de futebol o que quiser tem. Nas festinhas era só escolher. Eu nunca quis maconha, cocaína. Eu gostava era de mulher. Adorava misturar bebida: caipirinha, chope, vinho. O que viesse. Acabava loucão. Quem via logo saía falando: o Marinho está doidão, drogado. Mas era só álcool. Comecei a beber pesado depois que me separei. Foi duro demais. Me afastei da minha mulher, dos meus filhos. Meu patrimôniou ruiu. O pouco que havia sobrado foi dividido. Aí fiquei mal e passei a beber. Fui várias vezes internado. Principamente em São Paulo. Como é cidade grande, ninguém nem percebia. Mas bastou me internar aqui em Natal que o Brasil falou que eu estava morrendo…

Mas você está com hepatite C. Não está?

Sim. Mas a minha doença está controlada. Estou melhor fisicamente. Não estou morrendo, não.

Você trabalha, Marinho?

Não. Eu vou trabalhar. Quero criar um instituto Marinho Chagas para cuidar de crianças de 8 a 13 anos. Quero ensiná-las a jogar futebol. Espero ter apoio de gente de Brasília para isso. Fui rico. Hoje vico com R$1.700,00 que recebo do INSS. Acho que meu passado como jogador da Seleção Brasileira deveria ser respeitado. A CBF deveria dar ao menos uma aposentadoria e um plano de saúde a quem defendeu o nosso país na Copa do Mundo. Tem muita gente já morrendo por aí.

E o futuro?

Ah, eu vou sair candidato estadual pelo PDT. Quero lançar um livro sobre a minha vida. E um filme, mostrando os meus gols. Fui o lateral que mais marcou no futebol brasileiro. Fui o primeiro ala de verdade. Marquei bem mais de 100. Mas gols de verdade, não esses de treininhos como o que o Romário e o Túlio tem. Fui um jogador que revolucionou a sua posição. Vivi uma vida que merece ser conhecida e contada…

cosmerimolei

Um comentário sobre ““Tenho hepatite C.13 filhos. Enfrentei o alcoolismo. Fui rico. Hoje vivo com R$ 1.700,00 do INSS” Marinho Chagas”

Mauricio disse...

Olá amigo, vi seu blog e muito bom ter informações de esportes, saudações e boas-vindas a sua visita. intercambiamos link ??

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