Criador da câmera que pode ir a qualquer lugar do estádio presa por cabos reclama que tecnologia é mal aproveitada: 'Fifa é muito conservadora'
O torcedor mais desatento pode até pensar que ela voa. Mas o milagre tem a ajuda de quatro cabos, esticados do topo das arquibancadas. Como uma aranha na teia, que permite imagens de qualquer lugar do estádio. Não por acaso, seu nome é Spidercam. Ela também poderia ser chamada de Stormtrooper, já que seu design é baseado no capacete dos soldados de “Star Wars”. Usada pela primeira vez em uma Copa do Mundo, a câmera que passa por cima da cabeça dos jogadores chama a atenção na África do Sul. Mas seu criador não está contente: para o austríaco Jen Peters, esta tecnologia é mal aproveitada pela Fifa na África do Sul.
Jens teve a ideia da Spidercam em 1995, mas só conseguiu usá-la pela primeira vez quase dez anos depois, na inauguração da Allianz Arena na Alemanha. Após participar de finais de Liga dos Campeões, Olimpíadas, shows e lutas de boxe, a tecnologia foi alugada para a Copa do Mundo de 2010. Mas a forma como ela vem sendo usada não tem agradado Jens. Para o austríaco, o conservadorismo da Fifa impede melhores imagens.
- Só podemos chegar a 25 metros do gramado quando a bola está rolando, enquanto na Itália vamos a até dois metros. Se pudéssemos descer mais, mostraríamos tudo com detalhes, como se fosse um videogame. Aqui estamos limitados e apenas poucos minutos de nossas imagens vão ao ar. O futebol dá muito dinheiro, mas não podemos usar tudo que podemos oferecer. A Fifa é muito conservadora – disse Jens.
A Spidercam está presente em quatro estádios da África do Sul: Soccer City, Ellis Park (Joanesburgo), Moses Mabhida (Durban) e Nelson Mandela Bay (Porto Elizabeth). Os cabos que sustentam a câmera são feitos de Kevlar, uma fibra sintética de aramida usada também em coletes à prova de bala. Jens diz que toda a estrutura demora três meses para ser construída, mas em apenas um dia e meio é montada no local do evento. No ano passado, uma empresa chinesa pagou 350 mil euros (R$ 766 mil) pelo equipamento completo.
Três pessoas são necessárias para operar a Spidercam. Duas ficam localizadas em uma pequena cabine ao lado do gramado e trabalham em conjunto, recebendo ordens do diretor da transmissão: o operador, que precisa de “20 horas de voo” para controlar os movimentos do aparelho antes de participar da transmissão; e o cinegrafista, responsável pela captação de imagens. Andando pelo estádio, o terceiro funcionário se preocupa com a segurança, tomando os cuidados para que todos os elementos do sistema estejam operando perfeitamente.
- A câmera pode cair, assim como um avião. Mas tomamos todas as precauções para que isso não aconteça. Temos um software no computador central só para segurança, que checa se tudo está em ordem. Ele é independente do resto. Caso alguma peça não seja reconhecida, o sistema para e a câmera não se mexe mais. Outra medida de segurança é que todas as peças são colocadas em dobro, para que pelo menos uma sempre funcione. Se um cabo soltar ou cortarem, o sistema também para. A mesma coisa acontece se faltar energia. Há um sistema de freios que breca o equipamento no alto, e dificilmente ele cairia no gramado – explicou Jens, lembrando que sua empresa não tem relação com a câmera que caiu de um cabo durante o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro neste ano.
A Spidercam e sua proteção de alumínio pesam 25 kg. Jens contou que buscou inspiração no cinema para criar o design da tampa: os capacetes dos Stormtroopers, soldados criados por George Lucas.
- As primeiras eram pretas, mas resolvi pintar de branco a que está no Soccer City e realmente ficou parecida com aqueles robôs de “Star Wars”. Não sou muito fã dos filmes, mas meus filhos são e adoraram – lembrou.
Para Jens, o esporte em que a Spidercam melhor se adapta é o boxe. Mas o austríaco também gosta do resultado em shows de música e programas de auditório. Apesar da decepção no futebol, o engenheiro já pensa em levar a tecnologia para o Brasil em 2014. E com novidades: uma câmera 3D no equipamento.
- Ainda não temos contrato para 2014, mas estamos estudando esta parceria para ter as imagens em 3D. Porém, depende da Fifa. A Fifa não se importa com que imagem terá, mas com a segurança. Quem sabe não conseguimos descer mais um pouco no Brasil?
A câmera, preta, em ação no Ellis Park: com a bola rolando, só a 25 metros do gramado nos jogos da Copa
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