Apesar do jogo bonito nem tudo são flores no Barcelona

7.7.10 | Marcadores:
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É fácil queimar a língua, ou os dedos, nesse caso. Na semana passada o FC Barcelona anunciou seus números, efusivamente comentados aqui neste OCE. A receita total atingiu 445,5 milhões de euros e a receita operacional ficou em 405,5 milhões, fazendo do Barça o clube de maior faturamento no mundo nesse momento.

O ano fechou com um lucro (no Brasil é superávit em virtude da diferença de legislação) de 9 milhões de euros, com um enorme crescimento das despesas em 40 milhões de euros. Até aí nada muito extraordinário, uma vez que parte das receitas vieram por avanços e conquistas esportivas, como o Mundial de Clubes, por exemplo. Ainda mais considerando que a dívida estava em 326 milhões de euros, número alto mas ainda longe do que devem o Madrid, o grande rival e mesmo alguns clubes da própria La Liga, como o Atlético e o Valencia.

De qualquer maneira, entretanto, era e é inegável que o sucesso financeiro estava ligado diretamente ao estilo, ao prazer das pessoas em ver no campo o “jogo bonito”.

Entre o anúncio dos resultados da temporada 2009/2010 e ontem, Sandro Rosell, o novo presidente, tomou posse, substituindo a Joan Laporta. Vale dizer que Rosell fez parte da equipe que assumiu o Barça , mas elegeu-s.e como candidato da oposição, com 60% dos votos, ficando o candidato de Laporta em terceiro lugar.

E ontem Rosell fez um novo anúncio, dessa vez nada festivo como o da semana anterior: segundo o novo presidente blaugrano, o clube terá uma política de austeridade financeira até reequilibrar-se. Para fazer frente a compromissos urgentes, principalmente o pagamento da régia folha salarial, inclusive bônus diversos, Rosell está negociando com um conjunto de bancos um empréstimo de 150 milhões de euros. Esse dinheiro permitirá, também, recompor o fluxo de caixa do clube.

O maior problema da nova administração, porém, está fora do clube: a Mediapro, agência que comprou os direitos de transmissão do Barça e do Real Madrid por sete anos, cabendo ao clube catalão pouco mais de 1 bilhão de euros (isso mesmo: um bilhão de euros, mas isso já é notícia velha, até comentada mais de uma vez neste OCE), passa por dificuldades financeiras e pediu proteção contra falência – algo como uma concordata, sem todo o aparato dessa ferramenta.

Sandro Rosell disse que os pagamentos do clube não correm riscos, de acordo com pronunciamento do pessoal da Mediapro. Na prática, porém, é difícil afirmar tal coisa. Para complicar o quadro, ao contrário do Real Madrid o Barcelona não tem seu contrato de cessão de direitos garantido por bancos. Para entender a importância da Mediapro para os dois clubes, basta dizer que seus pagamentos respondem, grosso modo, por cerca de um terço da receita de cada um.

Pensando a respeito

A crise chegou ao rico futebol d’Espanha. Os dois gigantes pareciam imunes a ela, mas o aumento das despesas não foi compensado pelos aumentos, significativos, das receitas.

O risco, agora, tem outro nome: Mediapro, que depende da venda dos pacotes de transmissão para os consumidores para sobreviver e pagar seus débitos com os clubes. Com o desemprego em alta e a economia em recessão, os consumidores começam a ter dificuldades para manter despesas claramente supérfluas como a transmissão de jogos de futebol.

A situação mostra, também, que em algum momento será necessário racionalizar despesas e cortar investimentos. A “bolha” do futebol precisa ser esvaziada com segurança, antes que exploda, com prejuízos impensáveis. Seus efeitos são visíveis nos clubes ingleses e italianos, e agora nos dois gigantes espanhois, embora Florentino Peres, à frente do Madrid, ainda insista em sua velha política. Resta saber até quando e a que custo para o clube.

Confesso que esperava por algo assim em 2008 e começo de 2009 e nada aconteceu, pelo contrário, o futebol parecia imune aos efeitos da crise, o que motivou até mesmo declarações de políticos europeus a respeito.

Vendo as taxas de desemprego cada vez maiores, sobretudo na Espanha, e as economias estacionadas ou em declínio, ficava difícil entender o mundo da bola e sua bolha, mas, diante dos números ainda exuberantes, dei de ombros e achei que os grandes não sofreriam muito. O crescimento das receitas da UEFA, principalmente em cima da Champions League, também contribuiu para esse dar de ombros.

Agora, todavia, estamos vendo que nem tudo são flores e o dinheiro anda escasso mesmo onde, aparentemente, abunda (a palavra é feia e o verbo nada tem de elegância, mas é correto e, digamos, condizente com a situação abordada nesse post).

Dirigentes andam a fazer besteiras tanto cá como lá.

E, apesar de tudo, terei que rever meus conceitos sobre algumas coisas, como, por exemplo e principalmente, a gestão Laporta e prestar mais atenção ao que eu pensava e deixei de lado.

Menos euforia e mais realismo, para o futebol e para este cronista também.

olhar cronico esportivo

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