Apesar do melhor aproveitamento entre os técnicos da seleção na última década, imagem do treinador é à da equipe sem brilho da Copa de 2010
Faltaram 20 dias para Carlos Caetano Bledorn Verri completar exatos quatro anos como técnico da seleção brasileira. Demitido neste domingo, Dunga vai embora com um bom aproveitamento e dois títulos fortemente ofuscados por uma decepcionante participação na Copa do Mundo de uma equipe com um futebol sem brilho. Mas o treinador que desaparece com uma imagem intransigente e linha dura tinha um perfil bem diferente quando estreou em agosto de 2006.
Quando Dunga assumiu o cargo, as comparações com a Alemanha de Jurgen Klinsmann foram muitas: um ex-campeão mundial estreando como técnico tendo ao seu lado um auxiliar sem currículo expressivo (Jorginho num caso, Joachim Low no outro), uma preocupação com as roupas que fugissem do tradicional agasalho de comissão técnica e, sobretudo, um discurso de resgate às tradições e de amor à camisa. Dunga apostava numa equipe nova, deixando de lado medalhões que estariam por trás do fracasso no Mundial de 2006.
Logo na primeira convocação, para um amistoso contra a Noruega, em Oslo, o treinador trouxe novidades como jogadores esquecidos na Rússia e na Ucrânia, como Daniel Carvalho e Elano, além de então revelações do futebol carioca, como Marcelo, Jônatas e Morais. Dez jogadores da primeira lista de Dunga estiveram na África do Sul, mas cinco deles também já estavam na Copa de 2006. A estreia foi um empate em 1 a 1.
Naquele mesmo ano, o Brasil fez outras cinco partidas e venceu todas, incluíndo um 3 a 0 sobre a Argentina, em Londres. Foi a partida em que Kaká começou no banco. Dunga também deixou Ronaldinho na reserva, como uma prova de que na sua equipe "ninguém jogaria pelo nome". O treinador queria deixar claro que o oba-oba do Mundial de 2006 não se repetiria, mas, com isso, tornou apenas mais complicada a relação com os dois craques no início. A situação azedou ainda mais depois que ambos pediram para não ir à Copa América de 2007, a primeira competição oficial do treinador.
beira do campo como treinador (Foto: EFE)
Foi neste mesmo ano que Dunga sofreu sua primeira derrota (2 a 0), num amistoso contra Portugal, em Londres. Foi também neste período que o técnico começou a se indispor com os jornalistas por causa de comentários nada elogiosos às roupas usadas por ele. A Copa América começou mal, com uma derrota por 2 a 0 para o México, mas terminou muito bem. Dunga saiu fortalecido da Venezuela, com um título conquistado após novo 3 a 0 sobre a Argentina.
Vieram as Eliminatórias e o Brasil teve um bom começo, mesmo sem jogar bem. Mas foi 2008 o ano que definiu o que seria a relação de Dunga com a imprensa até o fim de seus dias como treinador da seleção brasileira. O treinador decidira comandar a seleção sub-23 nas Olimpíadas de Pequim. Chegou à China vindo de resultados muito ruins durante a temporada, incluíndo a primeira derrota do Brasil para a Venezuela na história e três empates seguidos dentro de casa, sendo um deles com a Bolívia.
Em Pequim, o Brasil x Argentina terminou novamente 3 a 0, mas desta vez a favor dos argentinos. A seleção sub-23 saiu dos Jogos Olímpicos com a medalha de bronze e Dunga voltou debaixo de pesadas críticas. No último jogo do ano, um amistoso contra Portugal, no Distrito Federal, pela primeira e única vez durante todo o período à frente da equipe o técnico esteve com o cargo seriamente ameaçado. Quando os portugueses fizeram 1 a 0, a torcida chegou a comemorar. Mas a seleção virou e conquistou um impressionante 6 a 2 que aliviou a pressão sobre o treinador.
O ano de 2009 foi o melhor do técnico Dunga. Começou com uma boa atuação numa vitória sobre a Itália (2 a 0), em Londres. Continuou com a conquista da Copa das Confederações numa virada sobre os Estados Unidos em Joanesburgo, com três gols marcados no segundo tempo após a seleção chegar ao intervalo perdendo por 3 a 2. A três rodadas do fim das Eliminatórias, o Brasil garantiu vaga no Mundial de 2010 com uma vitória por 3 a 1 sobre a Argentina, em Rosário. Como na conquista do tetracampeonato em 1994, Dunga quis revidar pelas críticas sofridas e aproveitou para defender o estilo linha dura.
- Não pediram minha cabeça. Mas sim cabeça, corpo e alma. Falaram que era ditador, mas se estourar a bomba vai para cima de quem? Tenho que tomar posição. Se der errado não vão perguntar para o guarda, mas para mim. Visto a camisa da seleção brasileira, que é o orgulho do meu país - disse na ocasião.
Treze jogos depois, a era Dunga terminou com a derrota da seleção brasileira para a Holanda por 2 a 1, em Porto Elizabeth. Uma partida marcada pela expulsão de Felipe Melo após um pisão no holandês Arjen Robben. Logo Felipe Melo, jogador a quem Dunga sempre defendera de críticas, de forma parecida à do Dunga jogador na fracassada seleção de Sebastião Lazaroni em 1990.
A seu favor, Carlos Verri pode dizer que teve o melhor aproveitamento entre os técnicos que passaram pela seleção brasileira na última década. Em 57 jogos, Dunga alcançou 40 vitórias, 11 empates e sofreu apenas seis derrotas. Um aproveitamento de 76,6%, contra 73,2% de Carlos Alberto Parreira em sua última passagem pelo cargo e 74,3% do pentacampeão Luiz Felipe Scolari. Números que talvez valorizem o currículo de um treinador à procura de emprego.
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