Presidente da Fifa afirma que ex-cartola travou organização da Mundial e que agora vai ser na 'correria'

A participação do governo no COL (Comitê Organizador Local) só foi possível com a saída do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. Essa é a análise do presidente da Fifa, Joseph Blatter, em entrevista ontem, em Budapeste.

Antes aliados, os dois se afastaram após o brasileiro apoiar adversário de Blatter na eleição da Fifa em 2011.

É a essa ausência governamental que o cartola atribui em parte os problemas da Copa-2014. Diz que agora o COL terá um "carteiro" para repassar notícias. Por isso, está otimista. Mas admite que o Mundial será feito com pressa.

Governo no COL
Era evidente que era necessário. Precisava de uma pessoa do governo no COL. Tem que ser feito em todo lugar. Só é possível agora porque tem um novo presidente da CBF [José Maria Marin]. Agora tem uma organização correta. Não era possível ter organização da Copa sem representante do governo. Se não, não tem comunicação. Não significa que a pessoa do governo é o mestre. Mas ela sabe o que acontece. Pode ser o carteiro para levar notícias.

Otimismo
Tenho certeza de que a Copa e a Copa das Confederações estarão prontas. Não sei com quantos estádios [a Copa das Confederações].

Sem dinheiro nacional
A Copa é a maior organização de esporte. Para a Fifa, é praticamente a única fonte de receita. Com a Copa, organizamos outras competições. E há milhões e milhões para programas de desenvolvimento de confederações que não estão na Copa. O dinheiro não vem do Brasil. Até agora, não temos um único patrocinador internacional do Brasil. [Os seis principais são multinacionais. Há brasileiros em categorias inferiores].

Romário
Quando Romário esteve comigo, finalmente entendeu. Ele disse: "Vocês [Fifa] vêm ao Brasil, pegam todo dinheiro e vão embora". Não é assim. A Copa é uma organização solidária. O Brasil pediu para tê-la. Eles [brasileiros] estão felizes de fazê-la. Talvez não todo o povo, mas não se pode fazer todos felizes.

Erros do COL
Até agora, a CBF estava organizando o que tinha que organizar. Talvez não soubesse -não farei maus comentários- que para trabalhar precisava ter alguém do governo. Talvez não estivessem muito envolvidos no dia a dia. Na África, houve muito mais. Na Alemanha, um na segurança, outro do interior, outro das finanças. Fiquei um pouco surpreso que [o COL] não tinha [gente do governo].

Relação Fifa e Brasil
Hoje está melhor. Fiz a viagem para ver a presidente [Dilma Rousseff]. Era a hora para ir lá. Acho que a mudança da CBF teve grande influência também no país.

Tempo disponível
Não estamos a seis meses da Copa. É hora de fazer. Se tem profissionalização na organização, as preocupações serão obras de estádios, aeroportos. Não é nossa responsabilidade direta. É do Brasil. Mas a nossa responsabilidade é que a organização tenha bom link com as autoridades. Talvez tenha sido tarde. Mas nunca é tão tarde.

População
Quando estive no Brasil, não tive a impressão de haver um pior sentimento sobre a Copa. Mas acho que eles sabem que não está pronto. O embaixador [Pelé] disse que precisamos seguir em frente. Talvez devesse ter dito um pouco antes. Em termos de construção, sempre há solução. Em 2004, na Euro em Portugal, no dia do jogo, havia pintura no estádio.

Escolha do Brasil
O Brasil é a sexta economia no mundo, talvez a quinta no futuro. Um país organizado, país de futebol. Se não pode confiar num país desse? Eles [brasileiros] têm o direito. São cinco vezes campeões. Não podia haver escolha melhor.

Ricardo Teixeira
Ele foi um grande presidente. Sem dúvida. Levou o futebol brasileiro à sensação de coletividade da seleção e aos parceiros comerciais. Agora saiu. Não vou comentar se esteve certo ou errado.

Cronograma
Espero que no sorteio, em 1º dezembro, saibamos exatamente os estádios para Copa das Confederações e possamos dizer os 12 para Copa-14. Mas você sabe que jogamos a Copa-10 em nove cidades e dez arenas. Mas não era um país tão grande. E não havia tanto interesse [na África do Sul quanto no Brasil].

Correria
Com minha experiência, sou otimista que no final tudo será bem feito. Asseguro que vai [ser organizada]. Talvez seja um pouco na correria, mas eles [governos] estão acelerando agora [as obras].

Lei Geral da Copa
Trabalhamos com confiança [no país-sede]. Sempre foi uma solução melhor.