As saídas para jantar sushi, o prato predileto de seu esposa Evanir, as idas ao Beira-Rio, casa do time do coração e local de trabalho de antigos colegas feitos na época de Inter, e as visitas a amigos, por exemplo, foram trocadas pelo descanso, e principalmente, pelas brincadeiras com o filho Matheus, 3 anos, o caçula dos Verri – Dunga e Evanir ainda têm Lucas e Gabriela como herdeiros.
Ou seja: dá para dizer que, desde o apito final de Yuichi Nishimura, em Holanda 2 x 1 Brasil, dia 2 de julho, em Porto Elizabeth, na África do Sul, Dunga deixou de ser Dunga e passou a viver como Carlos Caetano Bledorn Verri, o seu nome de batismo em Ijuí, no norte do Rio Grande do Sul. Afinal, o refúgio só foi interrompido para viagens à cidade de 80 mil habitantes para visitar os pais Maria e Edelar, que luta contra o Mal de Alzheimer há 9 anos, e a Garopaba, no litoral catarinense, onde tem uma casa. Outro destino nos últimos 8 meses foi a Europa, onde ele pretende um dia trabalhar, como técnico.
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Até voltar a ter uma vida social mais agitada, a partir do início de 2011, Dunga passava boa parte do tempo com atividades domésticas. Cortar a grama da casa, ir ao supermercado e abastecer o próprio carro revelam hábitos de um sujeito simples, que beira até o pacato. Um perfil diferente do que superestima o imaginário popular acostumado com o capitão raçudo e treinador rabugento da seleção.
Para reconstruir a trajetória de Dunga desde aquela partida, no dia 2 de julho, em Porto Elizabeth, o iG conversou com amigos, conhecidos, vizinhos, funcionários e com o próprio Dunga. “Hoje, estou desempregado”, disse o técnico, em uma rápida entrevista no Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro.
Abordado pelo iG, o ex-técnico da seleção em momento algum se recusou a dar a conversar, mas manteve olhar fixo em seu aparelho celular, respondendo as perguntas cabisbaixo e sem entusiasmo. Ou seja, a contragosto. “Não. Não tenho visto nada, estou por fora”, afirmou ao ser perguntado sobre os últimos jogos do Brasil, agora sob o comando de Mano Menezes.
O desinteresse ainda remete à queda e ao final do seu ciclo na seleção. A volta para casa, dois dias após a derrota para a Holanda não sai da cabeça do técnico.
Foto: Getty Images
"Não tinha como perder essa Copa”, disse Dunga para um amigo na chegada a Porto Alegre
O desembarque no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, foi até certo ponto surpreendente. Cerca de 50 torcedores o aplaudiram. Era uma das poucas vezes em que o brasileiro, neste caso representado por gaúchos, valorizava uma campanha esportiva que não tinha conquistado o primeiro lugar. Entre aquelas pessoas, estava o cabeleireiro Nei Oliveira, 72 anos, amigo de longa data do ex-jogador, que ao abraçá-lo, ouviu uma frase que custa a sair do seu imaginário:
“Nei, não tinha como perder essa Copa” , confessou o já ex-técnico da seleção.
O lamento quase abafou o “parabéns” dito por Nei e revelou o primeiro motivo para o futuro isolamento. Amigo desde a época do Trianon, seleção de jogadores profissionais que durante 43 anos se reuniu a cada fim de 12 meses para apresentações beneficentes no interior gaúcho, o cabeleireiro explicou em uma frase o tamanho do sentimento de perda de Dunga.
“Ele queria ser campeão, claro, para realizar um sonho, mas também para devolver a alegria que o povo brasileiro tinha perdido com a seleção”.
Segundo o amigo, foi em nome disso que Dunga aceitou o desafio de ser técnico e comandar o processo de reformulação da seleção. Não só dos jogadores, mas da preparação que teve diversos problemas em 2006, com festas e casos de indisciplina. Era um pedido especial de Ricardo Teixeira. As manifestações do presidente da CBF, pós-eliminação, que davam a entender que o fracasso tinha um único culpado, Dunga, foram o segundo motivo para o refúgio.
Uma das únicas pausas da enclausura foi o terceiro aniversário de Matheus, em 8 de julho, primeiro evento social com participação de Dunga. Em sua casa, o ex-treinador recebeu amigos. Os relatos são de um pai feliz, porém, um homem ainda marcado pelos efeitos de um jogo de futebol. Não lembrava nem de perto a simpatia e a naturalidade com a qual circulava entre amigos em eventos pré-Copa, na capital gaúcha.
“Dunga é um homem simples, mas não tolera injustiça”, disse um dos presentes ao aniversário, que pediu para não ser identificado.
As andanças continuaram tranquilas. Ele foi a Caxias do Sul acompanhar a filha Gabriela a uma aula no curso de moda. Ajudou o filho Lucas no curso de Educação Física, na capital.
Em outubro de 2010, fez uma rara aparição pública, em Mônaco, onde esteve em um evento anual organizado pelo seu empresário Antonio Caliendo. Ao lado de astros do futebol como Franz Beckenbauer, Hugo Sanchez e Francesco Totti posou para fotos sorridente.
A relação com Caliendo dura mais de 20 anos. Foi o italiano que o levou para a Fiorentina. Lá Dunga virou ídolo, também em uma época em que o agente triunfava no mundo dos negócios do futebol. Em 1990, ele chegou a cuidar da carreira de 12 dos 22 jogadores que disputaram a final da Copa. No Mundial seguinte, Caliendo assistiu a decisão tendo certeza que um cliente seu levantaria o caneco. Além de Dunga, trabalhava com Roberto Baggio.
Futuro
Em dezembro, porém, Dunga voltou às manchetes. Após a derrota do Internacional para o Mazembe, no Mundial Interclubes, a direção do clube cogitou demitir Celso Roth. O nome de Dunga, então, surgiu como alternativa. Porém, a troca foi descartada.
Sem nova oportunidade de emprego e priorizando o acompanhamento do estado de saúde do pai, Dunga passou a arriscar novas formas de investimento. Associou-se a empresas de construção civil, que exploram a expansão da zona sul de Porto Alegre, e intensificou uma prática que adotava desde a aposentadoria como jogador: palestras. A prioridade é por falar a crianças, especialmente de escolas públicas.
Este é mais um traço da personalidade de Dunga, segundo as pessoas que o cercam: ele adora crianças. Outro é a simpatia. Sim, ao menos é o que juram os amigos, que dizem que o jeito ranzinza das entrevistas é apenas a exceção que comprova a regra.
Em Porto Alegre, o Instituto Dunga de Desenvolvimento do Cidadão, em parceria com a Associação Cristã de Moços, atende cerca de 400 crianças em situação de vulnerabilidade social do Bairro Restinga e da Vila Cruzeiro, duas das regiões mais pobres da cidade. Desde a eliminação, ele assumiu o posto pela captação de recursos para este projeto.
Tudo leva a crer que continuará assim. Afinal, Dunga vive atualmente como Carlos Caetano Bledorn Verri.
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