Quando saiu para disputar a Eurocopa, há um mês, a seleção espanhola deixou um país mergulhado em uma crise que culminou em um resgate financeiro dias depois.
Ontem, com o título, a equipe voltou para casa para encontrar um país que pouco se lembrava da dívida pública ainda nas alturas.
Como na Euro de 2008 e na Copa de 2010, a vitória conquistada anteontem coincidiu com picos da crise econômica, que o bom momento da seleção ajuda a amenizar.
| Kote Rodrigo - 02.jul.2012/Efe | |
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O ônibus com os jogadores campeões europeus chega à praça de Cibeles |
"Sabemos que é apenas uma anestesia, mas queremos aproveitar ao máximo enquanto dura", afirmou o consultor esportivo espanhol José María Velázquez.
Ontem, em uma praça de Cibeles totalmente colapsada por torcedores, os 23 jogadores foram recebidos com palavras como "invencíveis", "super-heróis", "legendas", após cumprimentos do rei da Espanha, Juan Carlos 1º.
"A melhor coisa é ver a cara de alegria das pessoas e saber que amenizamos um pouco os tempos difíceis que vivemos", disse o meia Iniesta.
Além do título propriamente dito, os torcedores celebravam a "tríplice coroa": a encadeação de dois títulos continentais com um mundial.
Em 2008, quando também ganhou a Euro, a Espanha vivia o choque do estouro da bolha imobiliária e caía na crise. Em 2010, a vitória na Copa veio semanas depois de o governo da época anunciar o primeiro pacote de cortes sociais e lançar o país em uma espiral de greves.
Já a conquista de anteontem casa com o resgate financeiro aos bancos espanhóis, seguido de uma semana de juros e risco-país atingindo recordes e rumores sobre intervenção da União Europeia.
O técnico Vicente del Bosque, que já havia conduzido a vitória no Mundial, quer igualar agora a Espanha a Brasil e Itália, com a conquista de duas Copas seguidas.
À Folha, disse que o título na Copa de 2014 representaria o ápice de sua carreira.
"Nossa prioridade agora é a Copa do Brasil. Ganhar lá seria o ápice, e estamos focados nisso", disse o técnico.
Na tarde de ontem, sem dormir desde a vitória sobre a Itália, a seleção chegou a Madri e, após rápida passagem por um hotel, seguiu para a recepção da família real.
Quebrando o protocolo que permite apenas aperto de mãos, o rei deu um longo abraço em Del Bosque.
A recepção, que terminou no fim da noite em um palco montado na praça de Cibeles, onde torcedores esperaram mais de cinco horas para ver a seleção, apagou as críticas que o time vinha recebendo.
Pelo menos, as críticas pela tática de troca intensa de passes. As reclamações por ofuscar a grave crise econômica que o país atravessa continuam. E ganham força.
"Hoje [ontem], o governo anunciou mais cortes de gastos, mas a imprensa quase não noticiou", disse o economista Juan del Cierro, de um movimento que pede para os atletas declararem na Espanha o prêmio pela vitória. Cada um recebeu € 300 mil (R$ 750 mil), metade do que ganharam na Copa. Mas poderão escolher se vão declarar na Ucrânia, país da final da Euro e com carga tributária menor, ou na Espanha.