O Fórum Internacional de Futebol começou nesta terça-feira, em Brasília, discutindo a globalização do futebol e a dupla nacionalidade dos jogadores, cada vez mais comum no mundo da bola. O tema foi debatido por cinco personalidades do futebol: Carlos Alberto Torres, capitão do tri, Jairzinho, artilheiro da seleção na Copa de 1970, Paulo Rink, ex-jogador brasileiro que defendeu a seleção da Alemanha, Eusébio, o maior jogador da história da seleção portuguesa, e o argentino Ossie Ardiles, campeão mundial em 1978.
Na última Eurocopa, disputada no ano passado na Áustria e na Suíça, nada menos do que 33 jogadores de diferentes países defendiam as 16 seleções finalistas. Uma tendência cada vez mais forte no futebol mundial e que já chamou a atenção da Fifa. Atualmente, a seleção portuguesa tem dois jogadores brasileiros naturalizados: o zagueiro Pepe e o meia Deco. A Itália tem um argentino: Camoranesi. A Alemanha conta com o brasileiro Kevin Kuranyi. Apenas para citar alguns exemplos.
O problema cresceu recentemente, com a globalização chegando ao futebol na década de 80. Mas é bastante antigo. O ex-jogador Eusébio nasceu em Moçambique, mas defendeu a seleção portuguesa e virou o maior jogador da história do país. Em 1966, ajudou os lusitanos a chegar ao terceiro lugar na Copa do Mundo, eliminando, inclusive, o Brasil.
- Nasci na África e sou um admirador do futebol africano. Mas tive na época a oportunidade de defender Portugal e fui muito feliz na minha carreira. Moçambique era uma colônia de Portugal. É o que acontece atualmente com muitos jogadores africanos. Eles preferem se naturalizar e defender uma seleção mais forte. É difícil um país da África vencer uma Copa do Mundo. Lembro da Nigéria, que tinha uma grande seleção, e acreditava nela. Mas só chegou às quartas-de-final. Hoje posso dizer que fiquei satisfeito por um país africano ser escolhido para organizar a Copa do Mundo. África do Sul não é uma potência no futebol, mas quem sabe até lá. Acho que Camarões tem hoje uma boa seleção e podem surpreender. Não digo que vão ser campeões, mas podem surpreender - disse Eusébio, que recentemente surpreendeu o mundo ao afirmar que Pelé não foi o maior jogador de futebol de todos os tempos.
Jairzinho considera que o problema surge, principalmente, pela qualidade do jogador brasileiro em relação ao resto do mundo. O Furacão da Copa do Mundo de 1970 acha muito difícil ver, por exemplo, um estrangeiro vestir a camisa da seleção brasileira.
- Dentro da realidade do futebol, o Brasil é o único país do mundo premiado por ter a semente. E a cada dia nascem mais de mil jogadores. Por uma série de situações do próprio país. O Brasil é sofrido e o futebol dá à juventude uma oportunidade. Ele encontra a alegria de ser útil à sociedade pegando uma meia, enchendo de jornal e indo se divertir. Foi assim que eu cheguei onde cheguei. Por isso, é muito difícil ver um estrangeiro com chance de jogar na seleção. Pela nossa cultura – disse Jairzinho esquecendo que há alguns anos os brasileiros discutiam se Petkovic poderia defender a seleção.
Jairzinho aposta que um dia a seleção brasileira vai enfrentar um país formado, basicamente, por jogadores naturalizados. Como aconteceu no último Mundial de futsal, em que a final foi feita entre o Brasil e a Espanha, que tinha vários brasileiros com dupla nacionalidade.
- O Blatter (presidente da Fifa) quando elegeu o Brasil como sede da Copa de 2014 tocou no assunto e pediu para que o Brasil não jogue contra si mesmo. E isso é uma realidade. É uma preocupação nossa. Temos aqui um brasileiro que representou a Alemanha (se referindo a Paulo Rink). Hoje temos muitos jogadores representando outras seleções.
Paulo Rink, que foi o primeiro brasileiro a defender a seleção alemã, defendeu a dupla nacionalidade. O ex-jogador do Atlético-PR disse que não se arrepende por ter jogado pelos nossos rivais. Em 1998, ele foi convocado pela primeira vez para jogar pela Alemanha.
- Me sinto em casa no Brasil e na Alemanha. São dois países que adoram o futebol. Mas me sinto orgulhoso de ter jogado na seleção alemã. Fui o primeiro brasileiro a fazer isso. Foi uma decisão difícil. O meu sonho sempre foi jogar em uma seleção. E realizei isso. É o que me conforta no futebol.
Carlos Alberto Torres passou praticamente toda a carreira no futebol brasileiro. Só no fim aceitou uma proposta do Cosmos para jogar nos Estados Unidos. Mas admite que os tempos são outros. E o lado financeiro fala mais alto.
- O futebol teve uma evolução muito grande de 1986 para cá quando o mercado europeu se abriu para os jogadores latinos. Tenho orgulho de ter feito a minha carreira quase toda aqui no Brasil. Foram dez anos no Santos de Pelé, joguei ainda pelo Fluminense, pelo Botafogo e encerrei no Flamengo jogando por apenas três meses. E aí sim fui para os Estados Unidos ajudar a desenvolver o futebol por lá. Mas financeiramente hoje é muito diferente. Se atuasse hoje seria uma mentira muito grande se eu falasse que não gostaria de atuar na Europa.
O capitão do tricampeonato, porém, admitiu que o futebol brasileiro sofre muito com o êxodo dos principais jogadores.
- Se todos os brasileiros que estão no exterior estivessem jogando aqui teríamos o melhor campeonato do mundo. Eles vão para os outros países e colaboram para que esses campeonatos sejam um sucesso. Se tivéssemos condições de segurar os jogadores aqui, sem dúvida o Brasileiro voltaria a ser o melhor do mundo.
O argentino Ossie Ardiles, campeão mundial em 1978, lembrou que o problema alcançou todos os países latinos.
- Os nossos melhores jogadores também vão para a Europa. É difícil frear isso. Há muitos jogadores nossos atuando por lá.
globo

Nenhum comentário sobre “Globalização do futebol abre os debates do Fórum Internacional”
Faça seu comentário
BLOG DE ESPORTES COM ATUALIZAÇÕES DIÁRIAS, ABERTO A QUALQUER TIPO DE COMENTÁRIO SOBRE O ESPORTE NACIONAL E INTERNACIONAL, COMENTE SEM POUPAR PALAVRAS. AGRADECE O BLOG DO TORCEDOR.