Clube, que já teve até o craque Di Stéfano no elenco, desmorona com problemas após a morte de seu principal financiador
A ferida aberta pelo tráfico de drogas na história da Colômbia deixou suas marcas também no futebol. Bogotá, palco da partida entre Independiente-COL e Corinthians, nesta quarta-feira, às 21h50m (de Brasília), pela Taça Libertadores, guarda um dos casos mais dolorosos do país. Maior campeão nacional e badalado no mundo todo entre as décadas de 50 e 70, o Millonarios sofre uma crise sem fim desde que o narcotráfico deixou de investir no clube.
Di Stefano e Pedernera, ex-jogadores do Millonarios
A queda do “Millos” coincide com a morte de seu principal financiador. O último título da liga local conquistado pela equipe foi em 1988. Um ano depois, José Gonzalo Rodríguez Gacha, chefe do cartel da capital, foi morto pela polícia, e o time caiu em desgraça. Sem o dinheiro das drogas, a equipe perdeu os principais jogadores, despencou de rendimento e acumulou problemas.
Mexicano, como era conhecido, foi um apaixonado pelo futebol e chegou a se arriscar para ver o clube jogar. Enquanto o filho Freddy dava ordens aos treinadores nos vestiários, ele se vestia com a roupa da mascote, subia para o gramado para brincar com a torcida e sem ser reconhecido pelos policiais. Alguns rivais o acusam de comprar boa parte dos 13 títulos que o clube venceu.
- Não existe nenhuma comprovação de que Gacha fez acertos por títulos. O tráfico era uma realidade, um sustento econômico no Millonarios, mas havia também um trabalho esportivo - disse o diretor de comunicação do clube, Gustavo Monje.
Em outra realidade agora, o Millonarios contabiliza atualmente cerca de R$ 7 milhões em dívidas e segura a penúltima colocação no Campeonato Colombiano, com apenas oito pontos. O número, em comparação com os débitos de Corinthians (R$ 100 milhões) e Flamengo (R$ 200 milhões), é irrisório, mas bastante elevado para um país pobre e com baixo investimento no esporte.
Desde a morte de Gacha, a equipe vem sendo controlada pela Direção Nacional de Drogas, uma organização do governo criada para a combater o tráfico no país. Por conta dos problemas financeiros, recentemente o grupo chegou a cogitar vender um dos terrenos do clube para quitar as dívidas, o que não aconteceu. Apesar disso, os dirigentes apostam em uma reação nos próximos anos.
Equipes campeãs do Millonarios
- Estamos trabalhando pelo saneamento financeiro, com muito investimento em categorias de base e pagando dívidas. Creio que em dois anos poderemos voltar a ser grandes como no passado. Mas, desta vez, sem o tráfico envolvido - acrescentou Monjes.
O tráfico, aliás, está enraizado no futebol colombiano. Pablo Escobar, amigo de Gacha e morto em 1993, era o financiador do Nacional de Medellín. Em Cáli, Gilberto Ariduela comandava o Deportivo, adversário do Palmeiras na decisão da Libertadores de 1999. Na ocasião, Fernando, filho do traficante, deu US$ 150 mil ao árbitro paraguaio Ubaldo Aquino para facilitar o jogo para os colombianos. O juiz devolveu o dinheiro no dia seguinte.
Millonarios não só no nome
O envolvimento com o comércio internacional de drogas mancha uma das principais histórias do futebol sul-americano. Fundado em 1946, o Millonarios foi um dos times mais populares do mundo no fim dos anos 40. Depois de romper com a federação local, o clube fundou uma liga paralela, desfiliada da Fifa. Por ser contrário à Lei do Passe, passou a contratar jogadores renomados por toda a América do Sul com salários extremamente altos para a época.
O primeiro a chegar foi o argentino Adolfo Pedernera, um dos líderes do time do River Plate apelidado de “Máquina”. Pouco tempo depois, ele voltaria ao país para buscar outros dois craques: Néstor Rossi e nada menos que Alfredo Di Stéfano, um dos maiores jogadores de todos os tempos.
Pela fama na América do Sul, o clube ganhou os apelidos de “Embaixadores” e “Balé Azul”, passando a ser convidado para jogar contra equipes de todo o mundo. Em 1952, no jogo considerado por muitos o mais importante da história do “Millos”, o time derrotou o Real Madrid por 4 a 2, no Santiago Bernabéu. Di Stéfano marcou dois gols e imediatamente acabou contratado pelo clube merengue. Os brasileiros também foram vítimas, com derrotas do Botafogo, Corinthians e até do Santos de Pelé.
Com o passar dos anos, outras estrelas foram aparecendo, como o meia cabeludo Carlos Valderrama e o goleiro René Higuita, símbolos da seleção que foi às Copas do Mundo em 1990 e 1994. Na temporada 2009, o veterano goleiro Oscar Córdoba e o ex-palmeirense Muñoz eram os principais jogadores.

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