Jogadores como Romário, Edmundo, Renato Gaúcho e Edílson são muito lembrados pelo que faziam dentro e fora de campo, além das entrevistas diversas vezes polêmicas. Mas um dos grandes precursores dessa legião de craques cariocas a mostrar personalidade foi, sem dúvida, o atacante Dé, ex-Bangu, Vasco e Botafogo, nas décadas de 60, 70 e 80. Domingos Elias Alves Pedra também era conhecido como “Aranha” (em razão de uma gíria antiga que, dependendo da entonação, era relacionada a situações boas ou ruins) e tinha uma grande fama de namorador, que ele mesmo adora confirmar. Com a habilidade que sempre mostrou nas quatro linhas e artilheiro em todos os clubes que passou, o agora técnico Dé conversou com o JB Online sobre assuntos relacionados ao futebol.
Há cinco anos realizando bons trabalhos em times de médio porte nos Emirados Árabes Unidos, ele acaba de ser contratado para dirigir o Al Ittihad Kalba Club. Mesmo de férias no Brasil, como não seria diferente, o Aranha já mostrou toda a personalidade que marcou sua época de jogador. Questionado sobre o momento do Campeonato Estadual, o ex-ídolo criticou o que está sendo apresentado nos campos do Rio de Janeiro e do país.
- Pelo que tenho acompanhado, o futebol do Rio e do Brasil, de uma forma geral, está muito fraco e de baixa qualidade. Sei que tem esses fatores de times pequenos se prepararem antes e os grandes depois, mas não justifica. Tenho uma ligação muito forte com o Vasco, onde joguei por quase oito anos. Por isso, posso falar com muita tranquilidade. Os últimos times que o clube vem formando são os piores da história do Vasco. Os outros três também estão abaixo da média. Por exemplo, o Flamengo, mesmo líder, tem uma equipe fraquíssima para as tradições do clube. Mas é resultado da desorganização e bagunça que é o nosso futebol. Por isso, prefiro trabalhar fora do país, o que me dá muita tristeza – lamentou Dé, que comentou o processo de mudança no time de São Januário.
- É lamentável o que está passando o Vasco da Gama. Hoje o clube está na segunda divisão, o que deixa a torcida decepcionada. Torço pelo Roberto, pois sei que é uma pessoa de caráter. Mesmo sem experiência na função de presidente, acho que ele poderá levantar o Vasco.
Criticas até para o atual técnico da Seleção
Como técnico, Dé já dirigiu vários clubes desde 1985, entre eles Vasco e Botafogo. Com mais de 20 anos de experiência na função, o ex-jogador mostrou que não é partidário da manutenção de Dunga no comando da seleção brasileira.
- Em primeiro lugar, sou contra começar por cima. Todo técnico deve iniciar sua carreira em times de base, passar por clubes pequenos e ir adquirindo experiência. Por isso, o Dunga vem acumulando bons e maus momentos dirigindo a Seleção. O resultado contra a Itália foi fantástico. Já o empate sem gols contra a Bolívia diante dos nossos torcedores derrubaria qualquer treinador. Mas o Dunga tem respaldo muito firme da CBF. Em minha opinião, o melhor técnico é que deveria estar lá, ou seja, Vanderlei Luxemburgo, Felipão ou Muricy Ramalho. Entretanto, acredito que temos muitas chances de conquistar o hexacampeonato em 2010 pelo talento dos nossos jogadores – acredita o também treinador, que tem uma resposta muito prática para a demissão do Luiz Felipe Scolari da direção do Chelsea, da Inglaterra, com apenas cinco meses de trabalho. Ele ignora que o motivo tenha sido a falta de domínio do inglês do técnico campeão do mundo, em 2002.
- Acredito que tenha sido por outro aspecto. Claro que é muito importante a questão de dominar a língua do país que esteja trabalhando, para não depender de intérprete. No caso do Felipão, os dirigentes foram muito rigorosos. Na Europa, os clubes acham que os brasileiros são subdesenvolvidos em todos os fatores. Pra mim foi tudo preconceito mesmo. Só em Portugal é que temos um bom espaço para trabalhar. Até o Vanderlei, que é o melhor dos técnicos brasileiros, ficou pouco tempo na Espanha. A gente sabe que esse procedimento não é normal em times de ponta da Europa, que sempre apostam em trabalhos duradouros.
Conduta de Kaká gera elogios
Mas o Aranha também consegue ficar contente com alguns aspectos do futebol mundial. O meia Kaká, do Milan e da Seleção, foi muito elogiado por ele em razão da rejeição à proposta milionária feita pelo Manchester City.
- É uma volta ao futebol antigo. Sou contra essa nova Lei do Passe. O jogador perde rapidamente o vínculo com o clube de origem. Fico muito feliz com a atitude do Kaká. Mesmo sendo uma proposta tentadora, ele mostrou respeito ao Milan e seus torcedores. Mostrou ser exemplo de “semiprofissionalismo”, já que só deixou de ganhar mais para ficar no clube italiano. Kaká merece tudo que vem recebendo pelo que demonstra dentro e fora de campo.
Mesmo elogiando o atual camisa 10 da Seleção, Dé considera que a falta de jogadores que mostram mais atitude nas respostas é muito ruim para o futebol. Com a saída dos gramados de craques como Romário e Edmundo, ele rebate de primeira o motivo pelo qual os jogadores hoje em dia concedem entrevistas sem conhecimento mais amplo do futebol e do mundo.
- Falta de personalidade. Tive a oportunidade de fazer faculdade e procurei sempre me instruir para lidar com o público e a mídia. Não vou entrar no mérito de como eram fora das quatro linhas, mas o Romário e o Edmundo eram craques e respondiam muito bem nos momentos em que eram exigidos na profissão. Também dei péssimos exemplos quando não estava atuando. Demonstrava sempre o que pensava com muita franqueza. Ainda me arrependo de algumas atitudes por ter personalidade forte. Agora, os jogadores atuais são verdadeiras “vacas de presépios”. Eles abaixam a cabeça para os empresários. Infelizmente, a razão disso é não terem uma preparação cultural e não pensarem o que acontecerá depois da carreira – disse o Aranha, que lamenta apenas uma questão da diferença dos profissionais atuais para os da sua época:
- O pior de tudo é que eles jogam menos e ganham mais que os jogadores de antigamente.
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